2023 em imagens: levar esperança num mundo cada vez mais polarizado

2023 em imagens: levar esperança num mundo cada vez mais polarizado

Mirjana Spoljaric, presidente do CICV: “É preciso urgentemente redescobrir a humanidade uns nos outros”.

Do Haiti a Mali, da Ucrânia a Gaza, Iêmen, Etiópia, Karabakh: em cada dia de 2023, o espaço humanitário parece ter diminuído mais um pouco. Milhões de pessoas ao redor do mundo ficaram sujeitas a uma violência armada desenfreada, que em muitos casos desrespeita as normas mais básicas do Direito Internacional Humanitário (DIH).

As vítimas de conflitos perdem o acesso a comida, água e abrigo e testemunham a destruição de suas escolas e hospitais. Além disso, estão expostas à circulação de informações maliciosas nas redes sociais e nos meios de comunicação. Nesse tipo de guerra "híbrida", como é chamada, o objetivo é demonizar o adversário e privá-lo de sua humanidade para, finalmente, tentar negar-lhe o direito à vida.

Organizações humanitárias também têm sido alvo de ataques físicos e virtuais. Nosso compromisso com o princípio da neutralidade, que ajuda a chegarmos até as pessoas mais vulneráveis independentemente da parte a que pertencem, tem sido criticado por quem consideram que devemos tomar partido.

Nós existimos para assistir todas as vítimas de conflitos – e mantemos essa missão.

Nas palavras da presidente Mirjana Spoljaric, "o CICV afirma sua clara determinação clara de defender as pessoas em tempos de guerra, sejam civis ou combatentes, a fim de garantir o respeito pelos direitos e proteções conferidos pelo DIH".

Trabalhamos para levar ajuda vital onde ela for mais necessária, para que as pessoas possam retomar suas vidas e voltar a sorrir. Nosso compromisso não fraquejará em 2024.

Atendendo ao pedido das partes no conflito no Iêmen, o Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) facilitou em meados de abril de 2023 a libertação e transferência de 973 pessoas detidas em conexão com o conflito. CICV
Atendendo ao pedido das partes no conflito no Iêmen, o Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) facilitou em meados de abril de 2023 a libertação e transferência de 973 pessoas detidas em conexão com o conflito. CICV CICV

Iêmen: libertação de pessoas detidas traz "grande momento de humanidade"

Sexta-feira, 14 de abril de 2023, aeroporto de Áden. A delegada do CICV Fatima Sator acompanha pessoas que estavam detidas no caminho a Sanaa. Antes de embarcar no avião, ela lhes dá um celular para que possam avisar às famílias que eles voltarão a casa em breve. "É tão comovedor, todos eles estão eufóricos porque encontrarão seus familiares daqui a algumas horas, após passarem anos em cativeiro. É um grande momento de humanidade", diz ela.

O CICV mobilizou dois aviões fretados e três próprios, que realizaram 18 voos entre seis cidades no Iêmen e na Arábia Saudita para facilitar o retorno seguro de mais de 950 pessoas às suas casas.

Nas semanas anteriores à operação, o CICV visitou todas as pessoas detidas nos seus locais de detenção e se reuniu com elas em forma privada para garantir que a volta a seus lares fosse voluntária. Os delegados também verificaram que as pessoas detidas estivessem aptas para voar e lhes ofereceram a opção de informar às suas famílias que elas estavam voltando aos seus lares.

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Uma escola de Fortaleza que sofreu episódios de violência armada conseguiu se tornar referência em sua comunidade com o apoio de nosso programa AMS.
Uma escola de Fortaleza que sofreu episódios de violência armada conseguiu se tornar referência em sua comunidade com o apoio de nosso programa AMS. G. Christ/CICV

Brasil: reduzir os impactos da violência armada na educação

A violência armada continua representando um desafio significativo para crianças, adolescentes, profissionais da educação e comunidade escolar em diferentes regiões do Brasil. Aulas são interrompidas, levando até ao fechamento de unidades escolares. Há também evasão escolar, diminuição do rendimento escolar, descompasso entre idade dos alunos e ano escolar, carência de professores, insegurança alimentar devido à falta de merenda, impactos na saúde mental e bem-estar psicossocial.

Em Fortaleza, uma escola que antes enfrentava episódios de violência armada e não tinha o respeito da comunidade conseguiu transformar essa realidade, tornando-se referência. Chegou a ter lista de espera para novos alunos.

"Quando eu assumi em 2017, a fala era: 'Diretora não fique aqui após as 17h porque é muito perigoso. A senhora está pondo sua vida em risco.' Mas qual foi a minha resposta? 'Eu não vou viver com medo da comunidade em que eu estou. Porque se eu não trouxer essa comunidade para perto de mim, eu nunca vou conseguir fazer um bom trabalho. E assim a gente fez'", conta a diretora Silvia Nascimento.

O CICV desenvolveu o programa Acesso Mais Seguro para Serviços Públicos Essenciais (AMS), implementado em oito cidades brasileiras. Este programa busca mitigar as consequências da violência armada, fortalecendo as capacidades das instituições públicas na análise de contexto, gestão de riscos, gestão de crises e do estresse. As ações promovem mudanças nos comportamentos dos profissionais e gestores, para fortalecer sua resiliência e reduzir o impacto da violência armada sobre a oferta e o acesso a esses serviços.

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Colega do CICV ajuda idosa a carregar kit de ajuda
Colega do CICV ajuda idosa a carregar kit de ajuda CICV

Moçambique: apoiar as comunidades afetadas pelo conflito armado

Em Moçambique, cerca de 1 milhão de pessoas estão extremamente vulneráveis devido ao impacto do conflito armado na província de Cabo Delgado. A necessidade de meios de subsistência, abrigo, água, alimentos e outros tipos de ajuda emergencial é crítica.

Em resposta, atuamos em diversas frentes. Ampliamos e reabilitamos centros de saúde como o de Chuiba, garantindo melhor acesso da população a serviços médicos. Entregamos kits de artigos essenciais a famílias que retornaram a seus lugares de origem para ajudá-las a recomeçar. E distribuímos kits de pesca e insumos agrícolas para apoiar a subsistência das comunidades.

Também ajudamos a restabelecer laços entre familiares separados pelo conflito. Ampliamos o acesso à água potável, visitamos lugares de detenção e promovemos o respeito pelo Direito Internacional Humanitário (DIH). Tudo em parceria com a Cruz Vermelha de Moçambique.

Veja a retrospectiva completa.

O imigrante venezuelano Luis Miguel Arias (28) e sua filha Melissa (4) fazem uma pausa enquanto sobem um morro no Tampão de Darién, entre a Colômbia e o Panamá. Ele cruzou o Tampão com a esposa, seus dois filhos e um amigo.
O imigrante venezuelano Luis Miguel Arias (28) e sua filha Melissa (4) fazem uma pausa enquanto sobem um morro no Tampão de Darién, entre a Colômbia e o Panamá. Ele cruzou o Tampão com a esposa, seus dois filhos e um amigo. Federico Rios Escobar/CICV

Panamá/Colômbia: com migrantes nos perigosos caminhos de Darién

Em 2023, mais de 500 mil pessoas cruzaram o Tampão de Darién, uma floresta entre a Colômbia e o Panamá. Não há números oficiais de mortes na tentativa de cruzar a região, mas provavelmente sejam dezenas.

O CICV promove práticas recomendadas e padrões de tratamento digno e identificação de pessoas falecidas e retorno dos restos mortais às famílias entre as autoridades competentes. Em março de 2023, financiamos a construção de um necrotério forense na cidade de Pinogana (Darién).

Além disso, ajudamos os migrantes na região a avisar seus entes queridos como eles estão fornecendo ligações gratuitas e recarregando suas baterias. Para muitos, essa é a única forma de informar a seus entes queridos que eles sobreviveram a viagem pelo Tampão de Darién.

Veja o trabalho do fotógrafo Federico Rios Escobar na região.

Saiba mais sobre nosso trabalho forense.

Niemat estava escrevendo um livro sobre o surto de violência em sua cidade natal, mas o perdeu quando foi baleada e escapou para o Chade. Ela disse que vai começar de novo.
Niemat estava escrevendo um livro sobre o surto de violência em sua cidade natal, mas o perdeu quando foi baleada e escapou para o Chade. Ela disse que vai começar de novo. Eleonore Abena Kyeiwaa Asomani/CICV

Chade: sobreviver apesar de tudo

Em julho de 2023, nossa oficial de comunicação Eleonore Abena Kyeiwaa esteve em Abéché, no leste do Chade, onde o CICV tinha enviado uma equipe de cirurgiões. Eleonore conheceu pessoas que tinham fugido a pé da violência do Sudão e ouviu o que eles tinham a dizer enquanto se recuperavam de seus ferimentos.

Quando seu quadril foi fraturado por um tiro, Niemat achou que fosse morrer. Seu filho tentou levantá-la onde ela caiu, e ela implorou que ele se salvasse. Mas ele não a deixou para trás, e eles conseguiram chegar ao abrigo. Uma semana depois, eles foram separados e Niemat não soube mais do filho. Ela é uma entre muitos pacientes operados pelos cirurgiões do CICV.

Eleonore diz: "Através das dessas pessoas histórias, vi como a guerra é incrivelmente cruel para aqueles que não conseguem se proteger. Mas também vi como essas pessoas mostravam uma força tremenda na sua luta pela sobrevivência."

Mais relatos aqui.

O crescimento expressivo dos grupos armados no Haiti (atualmente são mais de 300), causou uma grave deterioração da situação de segurança, especialmente na capital, Porto Príncipe. Pessoas doentes e feridas tentam chegar aos hospitais por todos os meios possíveis.
O crescimento expressivo dos grupos armados no Haiti (atualmente são mais de 300), causou uma grave deterioração da situação de segurança, especialmente na capital, Porto Príncipe. Pessoas doentes e feridas tentam chegar aos hospitais por todos os meios possíveis. CICV

Haiti: prestação de assistência à saúde em meio a insegurança crescente

A situação humanitária no Haiti piorou dramaticamente nos últimos anos. A intensificação dos confrontos entre grupos armados, ou entre estes e a Polícia Nacional do Haiti, agravou as consequências humanitárias para comunidades que já sofrem uma crise econômica aguda. A inflação aumenta rapidamente e nove em cada 10 haitianos vivem abaixo da linha da pobreza.

Para as pessoas que vivem em áreas gravemente afetadas pela violência armada, os movimentos dentro e fora de seus bairros se tornam cada vez mais complicados.

No entanto, quando essas pessoas são feridas ou ficam doentes, a única opção para obter tratamento é deslocar-se para um hospital, uma vez que os serviços de saúde nestes bairros são quase inexistentes e, em muitos casos, os profissionais de saúde pararam de trabalhar ali devido à insegurança.

Artigo completo sobre o trabalho do CICV e a Cruz Vermelha Haitiana em meio à violência.

Liubov Petrivna (direita) tem a guarda dos dois netos, Pavlo (segundo a partir da esquerda) e Kseniia (segunda a partir da direita).
Liubov Petrivna (direita) tem a guarda dos dois netos, Pavlo (segundo a partir da esquerda) e Kseniia (segunda a partir da direita). T. Olinyk/CICV

Ucrânia: encontrar formas criativas para educar em meio ao conflito armado

O conflito armado internacional entre a Rússia e a Ucrânia continuou tendo um impacto enorme nas vidas das crianças em 2023. Em algumas partes da Ucrânia, a maioria das escolas está vazia, seus tetos e paredes foram danificados e as janelas estão cobertas. Algumas foram destruídas pela artilharia.

Liubov Petrivna tem a guarda dos seus dois netos, Pavlo e Kseniia, desde que perderam os pais nas hostilidades. Ela está fazendo todo o possível para dar uma boa vida aos netos, seja como for: cuida deles, ajuda com o dever de casa, leva-os para aulas de enfeite de contas e dança, dá seu amor incondicional. A família mora na cidade de Sumy. Kseniia está na terceira série e Pavlo, na quinta. Eles fazem aprendizagem mista: uma parte com aulas presenciais e uma parte à distância. Segundo Liubov, as crianças gostam muito de ir à escola e encontrar seus amigos lá. Já a parte remota tem sido difícil: eles têm apenas um smartphone para os dois.

"Eles têm tentado fazer educação à distância, mas o celular é velho e fica sem memória o tempo todo. Às vezes, eles nem sequer podem entrar às aulas ou fazer login na conta deles para ver o dever de casa", conta Liubov. O CICV entregou uma tablet para cada uma das crianças a fim de dar-lhes acesso constante às aulas e permitir-lhes estudar fora da escola. Leia o artigo completo. Artigo completo.

Arrab Ag Yehia, pastor e gerente de um local para pessoas deslocadas perto de Gao: “Sabemos que a ajuda humanitária não pode durar para a vida toda. Na situação atual, não sei se vou conseguir levar comida para casa quando voltar”.
Arrab Ag Yehia, pastor e gerente de um local para pessoas deslocadas perto de Gao: “Sabemos que a ajuda humanitária não pode durar para a vida toda. Na situação atual, não sei se vou conseguir levar comida para casa quando voltar”. Aminata Cissé/CICV

Mali: forma de vida tradicional dos pastores corre perigo

A pecuária é uma das principais fontes de renda das pessoas nas regiões centro e norte do Mali. No entanto, o conflito armado em andamento e o impacto cada vez maior da mudança climática estão frustrando as iniciativas dos pastores para manter seus animais vivos e com boa saúde.

Por causa da insuficiência de chuvas, os pastos e as terras aráveis estão desaparecendo cada vez mais rapidamente em toda a região do Sahel. Os animais ficam subnutridos e se tornam mais suscetíveis a doenças. Além disso, como as condições de segurança são cada vez mais precárias, os serviços de veterinários estão tendo problemas para acessar áreas remotas de forma segura. A região fronteiriça de Liptako-Gourma é particularmente perigosa para os pecuários, que que podem sofrer o furto de seus animais.

Para combater a insegurança alimentar, o CICV – em parceria com o Ministério de Desenvolvimento Rural do Mali – vacinou mais de 4 milhões de animais de todas as espécies entre novembro de 2022 e abril de 2023 para beneficiar 138.702 famílias.

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Imediatamente após o começo das hostilidades em 2023, equipes do CICV chegaram a regiões remotas de Karabakh para entregar alimentos e medicamentos a quem não tinha conseguido fugir dos combates ou desejava ficar lá.
Imediatamente após o começo das hostilidades em 2023, equipes do CICV chegaram a regiões remotas de Karabakh para entregar alimentos e medicamentos a quem não tinha conseguido fugir dos combates ou desejava ficar lá. CICV

Karabakh: no terreno com o CICV

A intensificação do conflito armado entre a Armênia e o Azerbaijão em setembro de 2023 obrigou dezenas de milhares de pessoas a abandonar suas casas e deixar atrás seus pertences e seus meios de subsistência. A situação humanitária das pessoas que ficaram era precária. Equipes do CICV bateram em todas as portas da região de Karabakh para garantir que as mais vulneráveis e isoladas não ficassem sem assistência que pode salvar vidas.

Única organização humanitária internacional que pôde trabalhar lá naquela época, o CICV evacuou quem precisava de assistência à saúde, forneceu medicamentos e material a centros de saúde, recolheu as pessoas falecidas e sinalizou as áreas contaminadas com minas e artefatos não detonados.

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Algumas das pessoas deslocadas no campo de Dalhiska, em Kismayo, vendem peixe para sustentar a família. O dia delas começa cedo, com uma visita à praia e aos mercados para comprar peixe fresco. Maryan Abdullahi limpa e corta o peixe que venderá aos clientes de sua banca no campo para deslocados internos de Dalhiska.
Algumas das pessoas deslocadas no campo de Dalhiska, em Kismayo, vendem peixe para sustentar a família. O dia delas começa cedo, com uma visita à praia e aos mercados para comprar peixe fresco. Maryan Abdullahi limpa e corta o peixe que venderá aos clientes de sua banca no campo para deslocados internos de Dalhiska. Abdikarim Mohamed/CICV

Somália: pesca é nova fonte de renda em meio à grave seca

Os meios de subsistência de agricultores e pastores foram dizimados pelos longos períodos de seca. Diante da projeção da sexta temporada consecutiva de chuvas abaixo da média e da escassez de terras férteis disponíveis, a pesca continua sendo uma fonte de renda alternativa para muita gente.
Em 2023, o Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) forneceu barcos, motores, geladeiras com energia solar e equipamentos de pesca a 250 famílias em Mogadíscio, em Bosaso e nas regiões de Middle Shabelle e Lower Juba.

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Em 25 de outubro de 2023, os moradores da Cidade de Gaza fugiram para o sul da Faixa de Gaza para abandonar seus bairros, que foram arrasados pelos combates. Abed Zagout/CICV
Em 25 de outubro de 2023, os moradores da Cidade de Gaza fugiram para o sul da Faixa de Gaza para abandonar seus bairros, que foram arrasados pelos combates. Abed Zagout/CICV Abed Zagout/CICV

Israel e Gaza: o desdobramento de uma tragédia intolerável

Desde os ataques de 7 de outubro de 2023 em Israel até a deterioração da situação humanitária observada hoje em Gaza, tudo que há é um sofrimento humano interminável.

Em Gaza, uma tragédia intolerável está se desdobrando diante dos nossos olhos. As hostilidades em andamento em áreas urbanas densamente povoadas, incluindo hospitais, colocam em perigo as vidas dos mais vulneráveis.

As famílias das pessoas feitas reféns vivem um pesadelo do qual não podem acordar. O CICV tem feito um apelo contínuo pelos reféns sequestrados em Gaza. Continuamos insistindo pela sua libertação e estamos fazendo todo o possível para obter acesso a eles. Não podemos conseguir isso sozinhos – é preciso chegar a acordos que permitam ao CICV realizar essa tarefa em forma segura.

Nossas equipes não contam com condições básicas de segurança para movimentar-se e entregar ajuda humanitária em Gaza. Precisamos dessas condições para podermos operar e ajudar a população.

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Praça dos Reféns, Tel Aviv. Israelenses acendem velas pelos reféns e para homenagear as vítimas de 7 de outubro.
Praça dos Reféns, Tel Aviv. Israelenses acendem velas pelos reféns e para homenagear as vítimas de 7 de outubro. Lior Segev/Shatil Stock