Genebra, sede do CICV (2016). Cornelio Sommaruga (à direita) em cerimônia em homenagem aos funcionários do CICV mortos em missão. Kathryn Cook Pellegrin/CICV

Cornelio Sommaruga, presidente do CICV entre 1987 e 1999

Cornelio Sommaruga, presidente do Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) de 1987 a 1999, morreu em Genebra no domingo, 18 de fevereiro de 2024, aos 91 anos.
Artigo 22 fevereiro 2024 Suíça

Neste artigo, a atual presidente do CICV, Mirjana Spoljaric, presta homenagem a Sommaruga.

Cornelio Sommaruga esteve à frente do CICV durante as grandes convulsões geopolíticas que se seguiram ao fim da Guerra Fria. Homem de convicção e grande carisma, modernizou o CICV para lidar com novos tipos de conflito e violência armada, ao responder às consequências humanitárias da Guerra do Golfo e dos conflitos nos Bálcãs, Chechênia, Somália e Ruanda.

Sommaruga era conhecido por seu comprometimento e sua personalidade excepcional. Levou a voz das vítimas da guerra aos governos, fortalecendo o Direito Internacional Humanitário (DIH) para protegê-las melhor, ao mesmo tempo em que defendeu uma ação humanitária neutra, imparcial e independente.

Seu compromisso com a proibição das minas terrestres antipessoal foi um exemplo notável..

Escandalizado pelos testemunhos de cirurgiões do CICV sobre as mutilações e o sofrimento indescritível que as minas terrestres causavam indiscriminadamente, ele decidiu lançar um apelo público pela proibição total destas armas em 1994, seguido de uma campanha pública – uma novidade para o CICV.

As propostas apresentadas contribuíram para um progresso histórico na proteção das vítimas da guerra, com a adoção da Convenção de Ottawa em 1997.

No final da Guerra Fria, questionou-se a necessidade de manter uma ação humanitária neutra, imparcial e independente. Sommaruga defendeu o respeito por estes princípios fundamentais do Movimento Internacional da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho e a sua aplicação. Hoje, mais do que nunca, estes princípios continuam sendo essenciais se quisermos agir no centro do conflito e servir como intermediário neutro.

Profundamente convencido da relevância do papel do CICV dentro do Movimento, ancorou-o no terreno, no meio do conflito e no diálogo com os beligerantes.

Em 1992, Sommaruga foi um dos primeiros líderes a alertar o mundo para os campos de internamento na Bósnia-Herzegovina e em 1994 foi um dos primeiros a chamar a atenção para os ataques dirigidos e sistemáticos a setores da população em Ruanda.

Ele investiu muito esforço no apoio à comunidade humanitária e à posição internacional de Genebra. Internamente, dedicou atenção especial à transformação do CICV e às carreiras de seus funcionários. O número de funcionários subiu de 3,5 mil no início de sua presidência para 10 mil no final. Quando antes todos os delegados eram suíços, agora provinham de nações e origens cada vez mais diversas.

Sommaruga foi profundamente afetado pela morte de colegas do CICV, especialmente em 1996, quando seis foram mortos na Chechênia e três no Burundi. Para proteger melhor as equipes das organizações humanitárias e melhorar o acesso às populações civis, Sommaruga tornou-se ainda mais empenhado no diálogo com as partes em conflitos – tanto governos como grupos armados não estatais.

Como ele dizia, "a finalidade da ajuda humanitária não é apenas satisfazer as necessidades imediatas, mas também recuperar a esperança".

Cornelio Sommaruga deixa-nos um legado precioso que devemos manter e nutrir frente aos desafios humanitários atuais.