Declaração do presidente do CICV, Peter Maurer, ao finalizar a visita de 5 dias a Damasco e nordeste da Síria

Durante a sua visita, Maurer visitou Hassakeh e o campo de Al Hol.

22 março 2019

Vi as terríveis condições e fui testemunha dos esforços para administrar as dezenas de milhares de pessoas chegando ao campo – que agora abriga mais de 74 mil pessoas. As necessidades são imensas e o campo está sobrecarregado.

A atenção da mídia concentra-se nos combatentes estrangeiros e suas famílias. Mas eles representam uma pequena porcentagem em Al Hol e outros campos. Cerca de 90% dos recém-chegados são mulheres e crianças, muitas das quais passaram por experiências extremamente traumáticas. Dezenas de crianças morreram devido ao frio e condições em Al Hol nas últimas semanas.

A nossa equipe conheceu uma mulher de 24 anos que deu à luz no caminho até o campo. Os seus outros filhos dormiam ao seu lado, no chão. Desde que chegaram ao campo com milhares de outras pessoas, dez horas antes, esperavam por água, comida e uma tenda para dormir. Ela quase não falava, mas conseguiu nos contar que o bebê recém-nascido havia sido levado ao médico.

Todas essas pessoas são seres humanos com direito a um tratamento humano. Não devemos permitir que uma retórica acalorada sobre os combatentes estrangeiros nos deixe cegos para o sofrimento que surge da emergência humanitária no nordeste da Síria hoje.

Demonstrar coragem moral frente à ansiedade pública e pressão política é difícil. Mas nós somos melhores que isso. As Convenções de Genebra, que fazem 70 anos em 2019, não deixam ninguém fora dos limites da lei, não importando que crimes eles podem ter cometido.

Fazemos um apelo aos Estados para que mostrem essa coragem. Tratar todos de modo humano e com dignidade, em conformidade com a lei, incluindo o devido processo legal. Manter as famílias juntas, sempre que possível. Assegurar mais recursos para possibilitar uma assistência humanitária adequada. E resistir à pressão para usar uma linguagem desumanizadora que só agrava o problema.

No campo de Al Hol, junto com o Crescente Vermelho Árabe Sírio, fazemos todo o possível para alimentar os recém-chegados, garantir o acesso à água, prover tendas e assistência à saúde básica ecolocar as famílias em contato. Porém, muito mais é preciso – mais abrigos, mais comida, mais água limpa, melhor saneamento, melhores serviços de saúde.

No resto da Síria – há oito anos em um conflito desastroso – a violência não acabou. Houve uma recente escalada nos combates e na violência em algumas zonas em Idlib e arredores. Dezenas de milhares de pessoas foram deslocadas como consequência da nova onda de hostilidades. Qualquer outro ressurgimento da violência agravará ainda mais a situação.

 

Prestando assistência no campo de Al Hol

No campo de Al Hol, junto com o Crescente Vermelho Árabe Sírio, o CICV:

  • distribui 9 mil refeições por dia aos recém-chegados;
  • entrega por caminhão 100 mil litros de água limpa por dia e distribui continuamente água potável engarrafada;
  • instalou 176 banheiros;
  • apoia os serviços de saúde: desde 6 de março, 700 pessoas foram tratadas e 400 feridos receberam primeiros socorros graças a um comboio médico, que consistia em uma unidade de saúde móvel do Crescente Vermelho Árabe Sírio apoiado pelo CICV, e duas ambulâncias. Outras 4 unidades móveis começaram a trabalhar em 19 de março.


Restabelecimento de laços familiares

 

  • No campo de Al Hol e outros, o CICV oferece serviços para ajudar a restabelecer ou manter os laços das famílias que perderam contato ou foram separados devido ao conflito. Desde o início de 2018, o CICV coletou 1661 mensagens "São e Salvo" e "Mensagens Cruz Vermelha", contendo notícias familiares nos campos, distribuindo 655 delas.


Visita a detidos

 

  • O CICV também visita pessoas detidas em relação com o conflito no nordeste da Síria que estão encarceradas em locais de detenção sob administração local na região. Durante as visitas, o CICV presta serviços humanitários como o restabelecimento ou manutenção dos laços familiares. O diálogo do CICV com os atores envolvidos na detenção é confidencial, concentrando-se na prestação de serviços básicos, condições de detenção e tratamento dos detidos.

 

Imagens disponíveis para download em: icrcnewsroom.org

 

Mais informações:

Sarah Alzawqari, CICV Beirute, + 961 3 138 353
Jenny Tobias, CICV Genebra, +44 79 447 37 26
Matthew Morris, CICV Londres, +44 7753 809471
Frederic Joli, CICV Paris, (+33) 6 20 49 46 30
Galina Balzamova, CICV Moscou, (+7 903) 545 35 34
Elizabeth Shaw, CICV DC, +1 202 361 1566
Pat Griffiths, CICV Canberra, +61 418 485 120