Iraque: desertos em expansão, temperaturas escaldantes e terras improdutivas marcam uma crise climática agrava as dificuldades dos agricultores

Iraque: desertos em expansão, temperaturas escaldantes e terras improdutivas agravam as dificuldades dos agricultores

Bagdá (CICV) – O Iraque vem sofrendo guerras, sanções e conflitos internos há mais de 40 anos, mas as possíveis consequências ambientais e econômicas da crise climática representam, sem dúvida, uma das ameaças de longo prazo mais graves que o país enfrenta hoje. Berço dos rios Tigre e Eufrates, o Iraque é um dos cinco países mais vulneráveis do mundo no que diz respeito à mudança climática.
Comunicado de imprensa 14 novembro 2022 Iraque

A desertificação afeta 39% do território do Iraque. As temperaturas extremamente altas estão se tornando mais comuns; as secas, mais frequentes e as tempestades de areia, mais intensas. O nível de precipitação diminuiu nos últimos anos, e muitos rios secaram, deixando milhares de dunams (unidade equivalente a 2.500 m²) amarelados e áridos.

Vivemos nessa região há muitas gerações. Essas áreas costumavam ser pântanos repletos de água, e as terras eram férteis. Podíamos cultivar o ano todo. Hoje em dia, é tudo um deserto", afirma Riyadh Al Ghazali, um dos líderes locais do distrito de Al Qadasiya.

Comunidades que vivem em regiões antes conhecidas pelo plantio de arroz e trigo agora estão lutando para sobreviver. O distrito de Al-Miskhab, que fica na província de Najaf, sempre foi famoso por cultivar o arroz âmbar, um tipo especial conhecido pelo seu aroma característico. "O arroz âmbar é considerado um dos melhores tipos de arroz do mundo. Não existe nada parecido, ele tem um sabor e aroma únicos", conta Iyad Muhsen, um dos agricultores de Al-Mishkhab.

A base da produção de alimentos no Iraque é a agricultura familiar, que historicamente atendeu às necessidades da população. No entanto, nos últimos anos a sustentabilidade do setor agrícola foi abalada por diversos fatores, incluindo conflitos, mudanças climáticas e escassez de água.

O Iraque é um país agrícola cuja atividade agrária depende fundamentalmente das chuvas. Por essa razão, as secas severas, a desertificação e a falta de recursos hídricos alternativos levaram a uma redução drástica no plantio de arroz âmbar. As autoridades e habitantes preveem que o famoso arroz iraquiano deixará de existir caso essas condições persistam.

"A área dedicada ao cultivo de arroz em Najaf passou de mais de 230.000 dunams a cerca de 5.000, 6.000 dunams, sendo que a maior parte do que se cultiva hoje não é o arroz âmbar, já que essa variedade demanda uma grande quantidade de água", diz Muhanad Saree, proprietário de uma beneficiadora de arroz.

Os agricultores se sentem cansados e desesperançados. Seu gado está morrendo, e eles estão perdendo sua fonte de renda de maneira lenta e dolorosa, sendo forçados a abandonar suas terras e migrar para áreas urbanas em busca de outras formas de subsistência. "Nossa fonte de renda vem da agricultura e da pecuária, e agora não podemos exercer nenhuma dessas atividades. É por isso que nossos filhos foram embora daqui e a região está cheia de casas abandonadas", afirma Bassem Karim.

Os agricultores no Iraque deixaram claro que os fatores ambientais e climáticos estão dificultando sua vida. "Para nós, é doloroso ver como nossas terras ficaram secas. Isso nos afeta psicologicamente. Estamos frustrados e não sabemos o que fazer", conta Bassem Karim, um agricultor que tem um mestrado em Economia e se recusa a abandonar suas terras.

O CICV, em parceria com a Sociedade do Crescente Vermelho Iraquiano, trabalha para amenizar o estresse hídrico, restabelecendo estações de tratamento e bombeamento de água, redes de tubulação e sistemas de irrigação. Também oferecemos apoio a centenas de agricultores mediante ajuda financeira para auxiliar na recuperação de seus meios de subsistência.

Associada aos efeitos prolongados dos conflitos no Iraque, a crescente ameaça das mudanças climáticas enfraqueceu a capacidade estatal de manter a infraestrutura e respaldar a agricultura. O efeito combinado dos conflitos e da crise climática está criando necessidades novas e urgentes para os grupos mais vulneráveis da população. Por isso, é fundamental gerar uma maior mobilização para ajudar as pessoas a lidar com as mudanças climáticas, que afetam o Iraque e outras regiões fragilizadas, e a se adaptar a elas.


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Mais informações:

Hiba Adnan (Bagdá) Hiadnan@icrc.org  +964 790 191 6927

Imene Trabelsi (Beirute) itrabelsi@icrc.org+961 3 138 353

Jason Straziuso (Genebra) jstraziuso@icrc.org + 00 41 79 949 35 12