Relatório de operações sobre o ciclone Idai: destruição e angústia para milhares de pessoas que ainda estão desabrigadas

29 março 2019
Relatório de operações sobre o ciclone Idai: destruição e angústia para milhares de pessoas que ainda estão desabrigadas
Kino Santos, 70 anos, viúvo e morador de Dondo na província de Sofala, Moçambique. Duas semanas se passaram desde que ele perdeu contato com seus filhos, que vivem em outra província. CC BY-NC-ND / CICV / Amilton Neves

À medida que as águas das inundações causadas pelo ciclone Idai baixam, a escala da devastação se torna cada vez mais clara. No entanto, o fato de algumas das comunidades mais atingidas estarem isoladas e sem poder receber assistência é preocupante. Dezenas de milhares de pessoas estão desabrigadas e centenas de famílias foram separadas.

Para ajudar as comunidades ainda fragilizadas pelo temporal em Moçambique, Zimbábue e Maláui, o Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) trabalha com a Federação Internacional das Sociedades da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho (FICV) e as Sociedades Nacionais para levar assistência.

"Quando chegamos às comunidades remotas isoladas pela enchente e pelos deslizamentos de terra, ficamos impressionados com a resiliência das pessoas, apesar das enormes dificuldades. Estamos levando, rapidamente, as nossas equipes de especialistas em água, meios de subsistência e saúde para avaliar e atender as necessidades imediatas", informou Hicham Mandoudi, que lidera os esforços de assistência do CICV em Chimoio, Moçambique.

"O nosso desafio é que as covas para enterrar os mortos são muito rasas. Não estão exatamente enterrados, se não que cobertos com galhos de árvores e escombros que as pessoas põem sobre os corpos. Em pouco tempo, eles serão movidos pelo vento, pela chuva e pela água, então os corpos reaparecerão, portanto, precisam de um enterro mais permanente", explicou o especialista forense do CICV no terreno em Moçambique, Stephen Fonseca.

Como ajudar vítimas do Ciclone em Moçambique, África

 

PREOCUPAÇÕES HUMANITÁRIAS

  • Dezenas de milhares de pessoas estão desabrigadas pelo temporal. Inclusive agora, que os níveis de água estão baixando, muitas comunidades ainda estão isoladas e complemente expostas à intempérie.
  • O acesso com veículos a muitas das áreas mais afetadas ainda é inviável no Zimbábue e Moçambique. A destruição das principais estradas, pontes e outras infraestruturas básicas torna ainda mais complicado o acesso das agências humanitárias.
  • As comunidades isoladas estão usando água altamente contaminada. Isso, combinado com as enchentes generalizadas e as más condições de saneamento básico, cria um ambiente propício para surtos de doenças, incluindo cólera. Os casos de malária podem vir a aumentar, já que a população está vivendo ao relento próximo à água parada.
  • Há uma necessidade urgente de material médico e água para as cidades de Estaquinha (distrito de Buzi, província de Sofala) e Espungabera (distrito de Mossurize, província de Manica), onde as comunidades foram completamente isoladas pelas tempestades depois que a infraestrutura básica foi destruída. Elas enfrentam uma ameaça cada vez maior de doenças transmitidas pela água.
  • Há informações sobre a existência de inúmeras crianças desaparecidas após o ciclone. As equipes do CICV viram mais de cem crianças nessa situação próximo a Estaquinha. O número de famílias separadas será imenso e por enquanto desconhecemos qual seria a dimensão das necessidades.
  • Em Moçambique, muitos corpos precisam ser recuperados. Os especialistas forenses do CICV estão trabalhando com as autoridades em Dombe (distrito de Sussundenga, província de Manica), para catalogar os mortos. No entanto, o acesso a muitas das áreas que carecem com urgência de ajuda forense ainda é inviável.
  • Dombe também precisam de alimentos, utensílios domésticos e material médicos. Muitas pessoas se abrigam em barracas e escolas. O hospital de Dombe está sem energia elétrica e há casos de diarreia. Esta é apenas uma das comunidades que precisa do básico duas semanas após ser atingida pelo temporal.

 

 OBSERVAÇÕES OPERACIONAIS

  • Equipes estão sendo enviadas da nova base logística do CICV em Chimoio, Moçambique, para as comunidades remotas nas províncias de Manica e Sofala para avaliar as necessidades mais prementes e prestar assistência imediata. As distribuições de artigos de ajuda começaram na semana passada e continuarão até o próximo mês entregando cobertores, lonas e utensílios domésticos para as comunidades.
  • O CICV entregou material médico e cirúrgico de helicóptero e por via terrestre ao hospital Nhamatanda, em Moçambique, que atende mais de 325 mil pessoas. A doação ajudará a atender o crescente número de casos de malária, diarreia, ferimentos e infecções respiratórias informadas pela equipe de saúde.
  • Em coordenação com o Ministério da Saúde, o CICV doou e transportou material médico para hospitais e clínicas rurais no leste do Zimbábue que atendem doentes e feridos.
  • As equipes trabalham com as Sociedades Nacionais em Moçambique, Zimbábue e Maláui para montar sistemas para reconectar familiares separados. Isso inclui cadastrar dados das pessoas desaparecidas e oferecer telefonemas gratuitos para entrarem em contato com os entes queridos e avisarem que estão a salvo.
  • A página de Restabelecimento de Laços Familiares continua recebendo casos de pessoas que indicam que estão a salvo ou que se cadastram para buscar entes queridos. Desde o dia 27 de março, quase 250 pessoas foram cadastradas como desaparecidas. Esperamos que mais casos sejam registrados nas próximas semanas, à medida que as nossas equipes cadastram as pessoas que não têm acesso à internet ou celulares.
  • Um especialista forense trabalha nas comunidades remotas com as autoridades moçambicanas na gestão de cadáveres de maneira digna. Isso inclui documentar os corpos e identificar covas na esperança de que as famílias que lamentam os seus mortos possam ter um desfecho. O CICV também doou sacos mortuários para as autoridades de Moçambique e Zimbábue.
  • O trabalho está sendo realizado como parte de um esforço de resposta mais amplo da Cruz Vermelha, liderado pela FICV e pelas equipes das Sociedades Nacionais. Com os primeiros casos de cólera confirmados, as autoridades de saúde moçambicanas, a FICV e a Cruz Vermelha de Moçambique estão trabalhando rápido para conter a disseminação da doença. Os voluntários da Cruz Vermelha de Moçambique são treinados para controlar a doença e já trabalharam em outras situações de surto. Fornecerão materiais para o tratamento da água em casa – uma das maneiras mais eficazes para prevenir a cólera. As equipes de emergência da Cruz Vermelha, lideradas pela FICV, também estão montando sistemas que em breve providenciarão saneamento para 20 mil pessoas e água potável para 15 mil pessoas por dia.

 

Mais informações:
Tendayi Sengwe, CICV Moçambique, tel: +258 850 368 582 / +27 66 476 4446
Crystal Ashley Wells, CICV Nairobi, tel: +254 716 897 265