Um pesadelo: crianças crescem à sombra da guerra do Sudão do Sul

Um pesadelo: crianças crescem à sombra da guerra do Sudão do Sul

Estes garotos do Sudão do Sul conhecem o pior do conflito: pesadelos, ansiedade, solidão, dor, perda, raiva e desesperança
Artigo 19 setembro 2019 Sudão do Sul

O que uma criança sabe sobre a guerra?

No Sudão do Sul, elas sabem a pior parte: pesadelos, ansiedade, solidão, dor, perda, raiva e desesperança. Desde o início do conflito, há cinco anos, os garotos não falam de escola ou amizades, mas de guerra e morte. Não conhecem sobre brinquedos e presentes, mas sobre crimes e armas.

Goi

Goi tem 10 anos. Ele não lembra exatamente o que aconteceu no vilarejo, mas passou os últimos dois anos assombrado por pesadelos em que seus amigos são queimados vivos dentro das casas.

Órfão, Goi sente falta de comer e brincar com os pais e os irmãos. Ele culpa a guerra pela "destruição causada ao país" e quer a paz: a matança deve acabar, afirma.

Muitos garotos vítimas da violência têm pesadelos e sentimentos de desesperança, raiva, medo e tristeza. Esse é o futuro do Sudão do Sul: um país de crianças que muitas vezes sofrem em silêncio.

Thagaya

Aos 12 anos, Thagaya ainda sofre muito. Ela também viu os amigos morrer. Não se importa em receber ajuda porque "a situação não mudaria". Thagaya está fazendo o que pode: estudar. Diz que um dia deixará a mãe orgulhosa, pois poderá lhe dar apoio quando se tornar aviadora.

Bitoang

Bitoang tem 14 anos. Seu pai foi morto em 2017 durante um ataque. Em 2018 morreu seu primo, seu melhor amigo. Eles fugiam juntos quando o primo foi atingido. Bitoang se sente responsável por não ser grande o suficiente para evitar que isso acontecesse. Tem pesadelos e não consegue parar de pensar no episódio. Ainda usa a mesma roupa desde o dia do ataque.

Nyaduala

Nyaduala, 13, sobreviveu a um ataque brutal contra o seu povoado. Acredita que a vida lhe deu uma segunda chance. Frequenta a escola, mas tem medo de não poder concluí-la porque pode ser obrigada a se casar antes da formatura.

James

James, 14, pensou que não sobreviveria ao último ataque. Estava escondido na mata havia dois dias, sob uma chuva torrencial. Sem comida e com milhares de mosquitos. Ele acredita que o vilarejo será atacado de novo, e por isso sempre pensa onde deve se esconder, para onde correr e quando voltar. A dor ainda é forte, e tem sido difícil esquecer o que aconteceu. Mas James também deseja poder perdoar e ser um homem bom.

As crianças dessa geração enfrentam enormes dificuldades, mas têm esperança. Precisam de tempo e espaço para se recuperar. Não pedem nada de extraordinário. Esperam trocar suas experiências de violência e medo por uma vida normal. Poder ter um lar, comida e acesso à saúde e educação, com familiares e amigos. E saber, enfim, o que é um presente e um brinquedo.