Foto: Dayana Rodríguez / CICV Colombia

Uma incerteza que nunca acaba

A vida com a incerteza de não saber se um ente querido está vivo ou morto e desconhecer sua sorte ou paradeiro foi uma dolorosa nova realidade para centenas de famílias na Colômbia em 2022. O fenômeno do desaparecimento relacionado com os conflitos armados e com a violência continua marcando as pessoas com uma dor que levará muito tempo para sarar.
Artigo 22 março 2023 Colômbia

Nossos números, que são apenas uma parte do problema, mostram que a prática ainda existe no país. Em 2022, documentamos 209 casos de desaparecimento ligados aos conflitos armados e à violência em 15 departamentos. Arauca, Chocó, Cauca, Nariño e Norte de Santander são as áreas mais afetadas, representando 79 % dos casos que conhecemos. Desde a assinatura do Acordo de Paz em 2016, documentamos a ocorrência de 1.122 desaparecimentos.

O controle social e a pressão dos portadores de armas condicionam não apenas as atividades diárias das comunidades, mas também seu acesso às instituições responsáveis pela busca e pelo atendimento às suas necessidades. Em alguns casos, por medo de represálias, as famílias preferem esperar meses ou anos antes de informar o desaparecimento de um membro.

As decisões dos atores armados no que tange à gestão devpessoas falecidas e à manutenção de contato entre familiares podem evitar desaparecimentos na Colômbia. Em algumas áreas do país, uma das formas de exercer controle social sobre as comunidades é impedi-las de recuperar os restos mortais de pessoas falecidas e não avisar da sua existência. Em outros casos, os grupos armados informaram organizações humanitárias para que estas recuperassem os corpos.

* Esses números correspondem aos casos documentados pelo CICV no desempenho de seu trabalho nas áreas onde temos presença. Portanto, eles não refletem a magnitude exata do fenômeno.

** Esses números podem variar com cada publicação, sendo que alguns desaparecimentos não são informados no ano em que aconteceram. Por exemplo, em 2022, documentamos 348 desaparecimentos, dos quais 209 aconteceram nesse ano e os restantes, entre dezembro de 2016 e dezembro de 2021.

Fonte: Comitê Internacional da Cruz Vermelha

Diante do drama enfrentado por milhares de famílias na tentativa de recuperarem os corpos de seus entes queridos falecidos no contexto dos conflitos armados, insistimos na necessidade de reforçar a resposta estatal para promover a recuperação digna de corpos, inclusive nos locais mais remotos. Para isso, é fundamental contar com a vontade incondicional e com os recursos necessários, especialmente para o funcionamento adequado da Unidade de Busca de Pessoas Dadas como Desaparecidas (UBPD). Igualmente, os portadores de armas devem prevenir o desaparecimento de pessoas, uma obrigação para todas as partes estabelecida nas normas da guerra.

O exposto acima faz parte do panorama dos desaparecimentos ocorridos desde 2016 e anteriormente. Nesse sentido, o Estado deve tomar as medidas necessárias para acabar com o desaparecimento de pessoas e conhecer o paradeiro das pessoas desaparecidas. É preciso promover a operatividade do Mecanismo de Busca Urgente, que poderia ajudar a impedir novos desaparecimentos. Para isso, é preciso informar os servidores envolvidos de sua existência e criar um sistema de monitoramento das ações realizadas pelas instituições quando o mecanismo for ativado.

Além disso, é fundamental que o acesso dos familiares de pessoas desaparecidas à assistência à saúde mental seja facilitado dentro do sistema público de saúde. Essas pessoas não são apenas números: são sonhos destruídos, famílias arrasadas, horas de busca e espera, uma resposta que às vezes não chega e, acima de tudo, a incerteza e a dor de não saber o que aconteceu e onde estão seus entes queridos.